Leituras inesperadas dos alunos do 7.º F para o 6.º A.
Ouvimos o conto «O Segredo», que o 7.º F escreveu coletivamente, inspirando-se no desafio lançado na semana da bicicleta. O resultado é verdadeiramente surpreendente. Aqui fica para que possam ler:
O meu segredo
O avô tinha
dito que na garagem havia um enorme pano que cobria um objeto fantástico.
-
Nunca levantes o pano! – advertiu.
A
curiosidade invadiu-me. Então, naquela noite suave e amena de primavera, desci
devagar as escadas que me levavam à garagem. A cada passo, o ranger das tábuas
de madeira velha ameaçava acordar os avós. Mas o avô já estava acordado… lenta
e carinhosamente, polia o objeto misterioso: uma bicicleta antiga. Escondi-me
na despensa debaixo das escadas. O meu coração estava aos pulos e parecia que
ia sair pela boca a qualquer momento. Por que motivo estava o avô àquela hora
de volta da bicicleta? De súbito, o avô cobriu-a com o pano e dirigiu-se para
as escadas. Sustive a respiração. Nem queria pensar no que o avô faria se me
encontrasse ali.
Quando a
pequena sombra corcunda do avô desapareceu na porta de acesso à casa, saí do
meu esconderijo e precipitei-me para a bicicleta coberta pelo pano. Levantei-o…
um velocípede antigo, com uma roda dianteira gigante, quase do meu tamanho, e uma
outra mais pequena. Reluzia com a luz brilhante da lua cheia que entrava pela
janela.
Nunca tinha
visto nada assim. Senti uma enorme vontade de me sentar na bicicleta. Não
resisti. Enquanto me sentava, a minha camisa de noite ficou presa na corrente e
um rasgão em forma de relâmpago denunciava a minha aventura.
- Tenho de
pensar no que dizer à avó… - pensei.
Já sentada
no selim do velocípede, comecei a pedalar devagarinho, aumentando
cuidadosamente a velocidade. Senti-me perseguida. Olhei para trás e vi que uma
luz seguia no chão a roda da bicicleta. Foi então que comecei a andar às
voltas, tentando desesperadamente fugir da luz, mas os meus esforços foram em
vão. Exasperada, carreguei no botão e o portão da garagem abriu-se à minha
frente e eu, sem mais demoras, sem pensar duas vezes, saí bruscamente, pisando
os canteiros do jardim de que a avó tratava tão carinhosamente.
Já lá fora,
não era possível controlar a engenhoca. Parecia ter vida própria e
ziguezagueava pela rua fora, ora em cima dos passeios, ora na estrada, sem que
a conseguisse parar. Sem saber como nem porquê, a bicicleta estacou. E eu,
assustada, quase voava em direção à relva. Olhei à volta e reparei que a luz
brilhante que me perseguia tinha desaparecido, mas algo inesperado estava
prestes a acontecer: do nada, pirilampos saltitantes, felizes e luminosos
voavam em direção aos raios das rodas da bicicleta. E eram cada vez mais,
vinham de todos os lados, silenciosos, organizados em forma de estrela.
Quando dei
por mim, subia em direção às estrelas. Os pirilampos levavam-me para uma viagem
inesquecível, especial e empolgante. Todas as noites de lua cheia, em casa dos
avós, passaram para mim a ser mágicas.
Trabalho realizado nas
aulas de português do 7º F, dos dias 13, 14 e 15 de abril, na sequência da
sessão de leitura de A bicicleta que tinha bigodes, de Ondjaki, no CRE.
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